Minha homenagem pelo dia dos pais em 8 de agosto de 2010
Jahyr Damaso da Silveira
Retrato de um cidadão exemplar
Vulto cívico de Papanduva
Biografia contextualizada.
Jahyr Damaso da Silveira quando se casou com Alice Furtado em 1939, morava em Canoinhas e tinha uma casa de comércio em sociedade com o irmão Hercílio. Os manos extinguiram a firma e ele montou uma nova empresa em Major Vieira. Morou lá por quatro anos e por influência dos Furtado resolveu transferir-se com a família para Papanduva.
Março de 1942 – Jahyr foi até a vila de Papanduva, alugou uma casa de Napoleão Mendes na rua principal. Procurou as melhores carroças para transportar a mudança. Os carroceiros foram Alfredo Lopes de Oliveira e Otávio Pechebella, este primo da esposa Alice e Sr Alfredo, que dali em diante, passou a ser o seu melhor amigo.
Para trazer a mulher e as duas meninas, Aldira e Marilza, emprestou do avô de Alice, Manoel Estevão Furtado, uma carruagem com tolda e poltrona de mola para maior conforto da família e ele mesmo, Jair, foi o troleiro condutor. Vovô Furtado fez questão de escolher a melhor parelha de animais de que dispunha.
Em seguida comprou dois terrenos dos herdeiros de Francisco Haas (de Teodoro Saade e de Luiz Haas de Souza), para construir a sua casa de morada e negócio. Sobraram ainda 12 contos de réis para começar seu comércio. Enquanto isso, montou residência na esquina mais próxima dos seus lotes e por bom tempo foi tocando o seu “negócio” e cuidando da construção da nova casa de madeira, com comércio na frente, moradia nos fundos e o poço dentro da própria varanda de trás. Ao lado do poço uma rede preguiçosa completava aquela delícia de lugar. A água era fresquinha e deliciosa, sinto o gosto até agora.
No dia da mudança para a casa nova, para dar sorte, as primeiras coisas mudadas foram: o nenê sentadinho numa cadeira alta (eu), um pão e um pouco de sal. Depois veio o restante da família, teréns e mercadorias.
Tínhamos uma horta, pomar, galinheiro, galpão, carroça e uma vaca de leite nos fundos da casa.
Senhor Jahyr, já de início se envolveu na sociedade papanduvense e de cara foi eleito presidente do Clube Papanduvense e teve ali repetidas e profícuas gestões.
O seu comercio vendia de tudo, secos e molhados, ferragens, louças, tecidos e alumínios, confecções, calçados, até querosene e gasolina. Era representante da Brahma e engarrafava vinho branco, vinagre e cachaça. Seu rótulo mostrava o nome da aguardente - era a Linda, com uma moça de vestido vermelho rodado na estampa. Comprou o seu primeiro caminhão F 600 para puxar mercadorias de Mafra, que chegavam através da firma de Luiz Maria do Vale. Negociava erva com Jordan, Stein e Leão Junior. Depois teve dois Chevrolet.
Em 1954 construiu uma nova casa de comércio, de alvenaria, coisa rara no lugar, a única depois da Casa Paroquial. A novidade é que tinha lareira, água encanada aquecida com serpentina de fogão à lenha, janelas venezianas, paredes de marmorine, alguns azulejos e luz elétrica com um gerador próprio.
Meus pais viajavam sempre a São Paulo para buscar mercadorias e se abalavam a cada vez que os preços subiam. A sua margem era sempre de 30% em cima dos 10% de despesa, injetadas no custo. Fui eu, que quase num ato de insubordinação, passei a botar 40% em cima de confecções. Exigia das cinco filhas, muita honestidade, gentileza e educação no trato com os clientes. Tínhamos que ser rápidas nos cálculos (sem calculadora), usarmos o raciocínio e acertar as longas somas, de primeira, conferir só por segurança, mas sem erro. Não admitia “pichotagem”.
Nós, as meninas, tínhamos que ajudar “no negócio” e um pouco na cozinha, aprender a costurar e bordar. Depois do primário, todas foram estudar em Rio Negro ou Canoinhas, por isso não sobrava muito para ampliar o comércio porque as despesas com colégio interno eram grandes.
A família cresceu, a Casa Progresso se transformou em Comercial Damaso da Silveira.
Sr Jahyr gostava de política, era fã do Juscelino, foi três vezes vereador e presidente da Câmara de Papanduva, no tempo em que vereador não era remunerado. Ajudou o lugar em tudo o que pode, inclusive, teve participação ativa na câmara de Canoinhas por ocasião da criação do município de Papanduva, em 1953.
Jahyr nasceu no Salceiro, no recém-criado município de Santa Cruz de Canoinhas, em 15 de fevereiro de 1912, filho de Luís Damaso da Silveira Filho e Maria Peters da Silveira, no início do Conflito do Contestado. Quando contava com apenas 17 dias, sua família teve que fugir, pelo rio Canoinhas, enquanto caboclos revoltosos incendiavam sua casa e saqueavam os depósitos e animais. Só em agosto deste mesmo ano foi batizado em Canoinhas por frei Menandro Kamps, quando a família voltava do exílio junto aos Peters em Bela Vista do Sul, pertencente ao Paraná naquele tempo.
1912 - ano em que foi criada oficialmente a paróquia de Canoinhas, desmembrando de Curitibanos. Esta vasta paróquia congregava a partir daí também as localidades de Papanduva, Major Vieira, Monte Castelo, Três Barras e Bela Vista do Toldo.
Também 1912 foi o ano em que se deu a instalação da Southern Brazil Lumber & Colonization Company em Três Barras.
Idem 1912 ano de confrontos sangrentos entre tropas do governo e fiéis do Contestado. Grande marco foi o Combate do Irani em que perdem a vida dezenas de pessoas, de ambos os lados. Morreram no confronto o coronel João Gualberto, que comandava as tropas do Paraná e também o monge José Maria, líder dos revoltosos, ocasião em que os partidários do contestado conseguiam a sua primeira vitória.
Jahyr estudou em Canoinhas e no Instituto Rionegrense, em regime de internato, sob a direção de Wenceslau e Dalila Muniz em Rio Negro. Serviu no Tiro de Guerra. Morou em Três Barras no tempo da Lumber, quando a localidade tinha um progresso e regalias de metrópole, com hospital super equipado, o primeiro supermercado do país, alimentos e bebidas importados, escolas, biblioteca, cinemas e teatros. Tudo para conforto da diretoria da Lamber, mas com que a comunidade se beneficiava, melhorava sua cultura e tinha oportunidade de ascensão social.
Jahyr Damaso da Silveira viveu em Papanduva até 1973 quando um estúpido acidente lhe ceifou a vida, aos 61 anos de idade, no auge da criatividade, disposição e trabalho.
Jahyr, não só testemunhou os avanços do século XX, como foi contemporâneo das atrocidades de duas Guerras Mundiais e do Conflito do Contestado, mas, muito mais que isso, foi testemunha da história de Canoinhas, Três Barras, Major Vieira, Rio Negro e Papanduva. Acompanhou seu progresso e viu as ruas serem moldadas e se encherem de automóveis e luminosos. Lia muito e assinava Seleções, O Cruzeiro e os jornais Barriga-Verde e Correio do Norte de Canoinhas. Não perdia a “Hora do Brasil” até que chegou a TV.
Meu pai foi um exemplo para tanta gente e em tantos aspectos, que quando relembro sua caminhada, minha alma sorri e chora ao mesmo tempo. Choro da saudade que nunca vai passar e pela perda memorável para os que o conheciam e também para qualquer papanduvense. “Seu Jahyr” representa um pedaço da nossa história, fonte viva dos antepassados portugueses e alemães que formaram o que somos hoje. Sorrio porque tenho orgulho de ter sido formada da mesma matéria de meu pai e por carregar seu sobrenome.
Tive o gosto de escrever sua biografia. Cabe aos nossos familiares e aos que tiveram o prazer de conhecê-lo, honrar seu nome ou seguir o seu exemplo.
Hoje, levanto meus olhos e o coração em saudações. Um brinde ao Sr. Jahyr, um heroi que viveu vencendo dificuldades e tocando a alma de quem o conhecia com seu carisma, dinamismo, trabalho, perseverança, ética e, sobretudo lealdade. Para ele, um fio de bigode era um documento.
“Al di là, del bene più prezioso
Ci sei tu” (Retalho de AL DI LÀ de C Donida)
Eu sei que além de lá está tu meu pai, bem precioso, além do infinito, além desta vida para um futuro encontro...
Namastê,
Sinira
Prezados Amigos e Familiares!
Espero que os esparsos fatos narrados tenham tido o poder de fazê-los conhecer um pouco do caráter e da personalidade daquele pai, tão decisivo na formação das cinco filhas e das gerações que o estão sucedendo.
Esta foi uma tentativa de elaboração de uma biografia contextualizada de Jahyr Damaso da Silveira inserido numa sociedade de um determinado período e local, algumas ligações e relações que estabeleceu ou teceu em seu meio.
Acato e aceito sugestões e correções a título de colaboração.
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