Composições
Sinira Damaso Ribas
EU SOU Uma extensão da mente de Deus
Coletânea de Artigos, Ensaios, Crônicas Histórias e Pedagógicas
Publicadas e Inéditas
1 Começando a Escrever
Sinira Damaso Ribas
Na década de 50 não havia televisão e o cinema era uma coisa rara no nosso meio. As notícias chegavam até Papanduva - SC, pelo rádio, pelas revistas “O Cruzeiro” – o mais importante periódico brasileiro de todos os tempos, pela revista “Seleções” e por dois jornais semanários de Canoinhas.
Seleções e O Cruzeiro me acompanharam durante boa parte da minha infância. Meu pai era fã das revistas e não perdia nenhuma edição.
Ao lembrar me emociono. Meu pai já se foi, mas guardo a doce memória da figura paterna que muito me amou, uma lembrança alegre guardada no coração daquela criança que também já se foi...
Antes mesmo de aprender a ler eu me sentia fascinada pelas gravuras estampadas. Tentava decifrar o mistério das letras em redor das figuras e Mamãe e minhas irmãs mais velhas me ajudavam nisso, enquanto as mais novas me estorvavam. Quando fui precocemente para o primeiro ano primário, já tinha a noção vaga da estrutura de palavras que precisava conquistar. Fui imediatamente subjugada pelas letras. Quando me cansava de sentar em frente à Cartilha de Leitura e aos cadernos, me deitava ao chão e continuava meus treinos ortográficos, mesmo sem entender o que produzia. De bruços no assoalho, atrapalhava o trânsito dentro de casa. Lembro que escrevia seqüências de sílabas em folhas de papel de embrulho da casa de Comércio de meus pais.

O gosto pela literatura e poesia já era de família e esta semente vinha germinando. Com 10 anos, ao ingressar no curso ginasial em Rio Negro, passei a ler e colecionar as revistinhas de “O Pato Donald”. Colecionava figurinhas e montava álbuns, como do Bambi (Disney). Esta história do Príncipe da Floresta me encantava.
O grande respaldo para escrever obtemos pela leitura e prática de pesquisas. É o embasamento necessário, além da inspiração e vontade de fazer arte. A habilidade e o gosto artesanal de escrever vão além das necessidades do cotidiano, trabalham nosso raciocínio e preenchem nossa vontade de socializar o que produzimos. Aqueles que apreciam o que escrevemos nos dão o necessário estímulo.
Nunca mais quero parar, pois como dizia Graciliano Ramos – “A palavra não foi feita para enfeitar e brilhar; a palavra foi feita para dizer." E “o que eu digo eu penso” e muita coisa do que penso eu digo.
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Domínio Espanhol
Sinira Damaso Ribas
Desde o Tratado de Tordesilhas, nossa região era de domínio espanhol por estarmos a oeste da linha demarcatória. Por ordem do rei da Espanha em 1775, o cartógrafo oficial da coroa Don Juan de La Cruz Cano Y Olmedilla1, confeccionou o mapa meridional da América do Sul, com os domínios espanhóis e portugueses.
Chamou-nos a atenção o fato de Orville2, geólogo americano, no século XIX, citar segundo o mapa de Olmedilla, alguns acidentes geográficos do planalto norte e serrano (hoje catarinense) como “San Juan” (Matos de São João) - “Espigon” (Sierra) o Rio Canoas-Meri” (Canoinhas), “Tacuaral” (Taquaral no Município de Monte Castelo), “Cori e “Tibanos” (Curitibanos).
Interessante é que Papanduva, segundo os sertanistas, fazia parte dos chamados “Matos de São João’. Assim se expressaram: "(...) Tem a dita Lomba Grande um despenhadeiro para a parte do nascente. A lomba do mato de São João tem uma travessia de sete ou oito léguas; no meio deste mato há um ribeirão que corre para o nascente com grande barrocada, duma parte e outra, muita pedra, e quatro braças de largo com só dois palmas de fundo. (...) No seu interior se acha o ‘grande Pinhal”3.
Em seus roteiros de viagem as extensões são em léguas. Usavam-se medidas em braças e pés. Falava-se em restingas, faxinais e campestres, nas épicas jornadas por onde por muito tempo passariam as tropas de bovinos e muares, rumo ao Brasil central. 4
A planície que mais tarde se chamou Papanduva constava no roteiro do sul, aberto por Francisco de Souza e Faria em 1727, como “a Desejada”. “(...) É esta campina com duas léguas de circuito, com muito bom pasto, tendo, porém um pantanal que a cinge quase toda pelo norte” (referia-se ao capim papuã e aos banhados do bairro Barro Preto e do Passo Ruim).
Local aprazível, águas cristalinas, capim doce, segurança! Papanduva já era e ainda o é o paraíso da hospitalidade .
------------------------------------------------------------------------------------------------1- Don Juan de La Cruz Cano Y Olmedilla – Cartógrafo oficial da coroa espanhola, autor do mapa da América Meridional em 1775. http://members.fortunecity.es/cartografias/canolm.html Acesso em 22/02/2005
2- Orville Adelbert Derby. (1851 – 1915) – notável geólogo e geógrafo americano, que trabalhou no Museu Nacional do Rio de Janeiro e realizou inúmeros estudos no Brasil, organizando as coleções de mineralogia e paleontologia. http://www.sobiografias.hpg.ig.com.br/OrvileAD.html Acesso em 22/02/2005
3- Cf. MOREIRA, Júlio Estrela. Caminhos das Comarcas de Curitiba e Paranaguá (3º volume) 1975. Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Paraná. Curitiba
4- RIBAS, Sinira Damaso. Resgate de Memórias: Papanduva em Histórias. Famílias. 2004
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3
Importância de grupos Étnicos na Colonização de Papanduva
Sinira Damaso Ribas
O professor deve fazer com seus alunos, atividades que os levem a se reconhecerem como sujeitos históricos e como tal fazerem pesquisas em locais que extrapolem o ambiente da sala de aula.É recomendável leva-los a pesquisar a contribuição dos diversos grupos étnicos, sem desvalorizar aqueles que comumente são excluídos, como os indígenas da região e os afro-descendentes. Acentuamos que se valorize também o papel da mulher ao longo da história. O que é importante é dar dignidade a estes sujeitos históricos, que não podem ficar invisíveis e considerados inferiores.
Devemos valorizar os imigrantes, mas não desvalorizar os nativos. Os alunos devem ser estimulados a conversar com pessoas da comunidade, acerca dos grupos étnicos que se estabeleceram na sua região. Outra atividade seria explorar as fontes orais, com entrevistas com descendentes de imigrantes e a pesquisa sobre a sua cultura e hábitos familiares.
Importantes são as fontes históricas escritas, bibliografias, jornais, fotos e os próprios livros didáticos, questionados e revistos, levando-se em conta que nos dias de hoje se usa outra abordagem no estudo de História.
Dentro de uma nova visão, deve-se levar o aluno a construir o conhecimento histórico a partir de que ele conceba de que ele próprio também constrói. O estudante deve perceber a diversidade étnica e social e aprender a respeitar as diferenças.
Em nossa comunidade não existe nenhum preconceito ou tentativa de se glorificar alguma cultura em detrimento de outras.Em tempos passados, quando não se valorizava a cultura dos indígenas e não se tinha a compreensão de que eles eram os verdadeiros senhores destas terras, havia em todo o planalto serrano meridional muito preconceito em relação a eles, bem como denominação pejorativa com conotação de “inimigo”. Mas, não podemos julgar os acontecimentos passados, só podemos analisar os fatos dentro de um contexto. Hoje nossa visão é outra, sendo necessário problematizar e questionar muitas concepções aprendidas. Uma delas é assentada na imaginação de que todos os índios eram iguais. Não. As populações indígenas eram e são marcadas pela diferença. Os índios que habitavam esta região eram os Botocudos, hoje denominados Xokleng, despejados de seu melhor habitat, as florestas de araucárias.
Todos, nativos, luso-brasileiros e descendentes de escravos africanos ou imigrantes, nos beneficiamos com as lições extraídas da História, hoje encarada numa perspectiva crítica/ética/cultural.
Sinira Damaso Ribas
EU SOU Uma extensão da mente de Deus
Coletânea de Artigos, Ensaios, Crônicas Histórias e Pedagógicas
Publicadas e Inéditas
1 Começando a Escrever

Na década de 50 não havia televisão e o cinema era uma coisa rara no nosso meio. As notícias chegavam até Papanduva - SC, pelo rádio, pelas revistas “O Cruzeiro” – o mais importante periódico brasileiro de todos os tempos, pela revista “Seleções” e por dois jornais semanários de Canoinhas.
Seleções e O Cruzeiro me acompanharam durante boa parte da minha infância. Meu pai era fã das revistas e não perdia nenhuma edição.
Ao lembrar me emociono. Meu pai já se foi, mas guardo a doce memória da figura paterna que muito me amou, uma lembrança alegre guardada no coração daquela criança que também já se foi...


Desde cedo tinha assinatura de revistas em quadrinho, gibis com diversas temáticas.
Comecei a ler os primeiros livros no Colégio de Canoinhas. Eram romances “água de açúcar”, censurados pelas freiras franciscanas. Logo tomei gosto por romances de amor ou policiais e logo mais devorava qualquer coisa que me caísse nas mãos. Assim como lia, fazia anotações e pequenos resumos de obras e tomava cada vez mais intimidade com a prática da escrita, um bem que almejo usufruir pelo resto dos meus dias.
Como professora, por mais de 30 anos, as práticas da leitura e contato com diversos textos estiveram no meu cotidiano. Muito me envolvi nas lides com as letras, mas não é só isto que nos faz praticantes da escrita.O grande respaldo para escrever obtemos pela leitura e prática de pesquisas. É o embasamento necessário, além da inspiração e vontade de fazer arte. A habilidade e o gosto artesanal de escrever vão além das necessidades do cotidiano, trabalham nosso raciocínio e preenchem nossa vontade de socializar o que produzimos. Aqueles que apreciam o que escrevemos nos dão o necessário estímulo.
Nunca mais quero parar, pois como dizia Graciliano Ramos – “A palavra não foi feita para enfeitar e brilhar; a palavra foi feita para dizer." E “o que eu digo eu penso” e muita coisa do que penso eu digo.
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Domínio Espanhol
Sinira Damaso Ribas

Orville fala em “Alto da Sierra” e entre outros tantos pontos com nome espanhol ou indígena, cita no final, o rio “Garabatahy” (rio Gravataí) e “Viamon” (Campos de Viamão, onde termina o Caminho das Tropas no Rio Grande do Sul).
Nossa região fazia parte da Província de São Paulo. A Província de Santa Catarina tinha dimensões reduzidas. Em 1853 passou a fazer parte da Província do Paraná e só depois da Guerra do Contestado voltamos a ser catarinenses.
Estamos pesquisando a Estrada da Mata e o Caminho das Tropas, e mais uma vez constatamos, que neste trajeto desde Sorocaba SP, o único rio que caminha para leste é o rio Itajaí.
Os outros rios, inclusive os nossos vizinhos rio Negro, São João, Papanduva e Canoinhas, todos vão para o oeste, para a Bacia Platina. O rio Itajaí do Norte nasce em Papanduva, em Queimados, divisor de águas, logo adiante se precipita num salto espetacular, e mais além a sua natureza caprichou num local chamado Terreiro de Pedra, mas que os bandeirantes que abriram o caminho das tropas se referiram como “uma calçada”.
Em seus roteiros de viagem as extensões são em léguas. Usavam-se medidas em braças e pés. Falava-se em restingas, faxinais e campestres, nas épicas jornadas por onde por muito tempo passariam as tropas de bovinos e muares, rumo ao Brasil central. 4
A planície que mais tarde se chamou Papanduva constava no roteiro do sul, aberto por Francisco de Souza e Faria em 1727, como “a Desejada”. “(...) É esta campina com duas léguas de circuito, com muito bom pasto, tendo, porém um pantanal que a cinge quase toda pelo norte” (referia-se ao capim papuã e aos banhados do bairro Barro Preto e do Passo Ruim).
Local aprazível, águas cristalinas, capim doce, segurança! Papanduva já era e ainda o é o paraíso da hospitalidade .
------------------------------------------------------------------------------------------------1- Don Juan de La Cruz Cano Y Olmedilla – Cartógrafo oficial da coroa espanhola, autor do mapa da América Meridional em 1775. http://members.fortunecity.es/cartografias/canolm.html Acesso em 22/02/2005
3- Cf. MOREIRA, Júlio Estrela. Caminhos das Comarcas de Curitiba e Paranaguá (3º volume) 1975. Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Paraná. Curitiba
4- RIBAS, Sinira Damaso. Resgate de Memórias: Papanduva em Histórias. Famílias. 2004
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Importância de grupos Étnicos na Colonização de Papanduva
Sinira Damaso Ribas
A união dos três grupos étnicos fundadores do povo brasileiro - o negro, o índio, e o português - forma a base original do povo papanduvevse, aliado aos imigrantes alemães, poloneses e ucranianos e mais tarde por japoneses e descendentes de italianos.
Papanduva foi moldado primeiro pelos índios, pioneiros no uso da terra, seguidos no século XVIII e XIX pelos tropeiros, por agricultores paulistas e paranaenses de origem portuguesa ou espanhola, pelos caboclos luso-brasileiros e afrodescendentes das frentes de trabalho de construção e manutenção da Estrada da Mata e pelos imigrantes germânicos, eslavos e em menor número por japoneses e descendentes de italianos.
A História é construída pela ação humana.
Hoje se encara de outra maneira o estudo de História. Dá-se ao aluno(a) um outro olhar para o passado.
Questionamo-nos como professores sobre a melhor maneira de trabalharmos em sala de aula sobre a temática de colonização e imigração sem excluir nenhum grupo étnico e sem exaltar nenhuma contribuição como mais relevante.
Papanduva foi moldado primeiro pelos índios, pioneiros no uso da terra, seguidos no século XVIII e XIX pelos tropeiros, por agricultores paulistas e paranaenses de origem portuguesa ou espanhola, pelos caboclos luso-brasileiros e afrodescendentes das frentes de trabalho de construção e manutenção da Estrada da Mata e pelos imigrantes germânicos, eslavos e em menor número por japoneses e descendentes de italianos.
A História é construída pela ação humana.
Hoje se encara de outra maneira o estudo de História. Dá-se ao aluno(a) um outro olhar para o passado.
Questionamo-nos como professores sobre a melhor maneira de trabalharmos em sala de aula sobre a temática de colonização e imigração sem excluir nenhum grupo étnico e sem exaltar nenhuma contribuição como mais relevante.
O professor deve fazer com seus alunos, atividades que os levem a se reconhecerem como sujeitos históricos e como tal fazerem pesquisas em locais que extrapolem o ambiente da sala de aula.É recomendável leva-los a pesquisar a contribuição dos diversos grupos étnicos, sem desvalorizar aqueles que comumente são excluídos, como os indígenas da região e os afro-descendentes. Acentuamos que se valorize também o papel da mulher ao longo da história. O que é importante é dar dignidade a estes sujeitos históricos, que não podem ficar invisíveis e considerados inferiores.
Devemos valorizar os imigrantes, mas não desvalorizar os nativos. Os alunos devem ser estimulados a conversar com pessoas da comunidade, acerca dos grupos étnicos que se estabeleceram na sua região. Outra atividade seria explorar as fontes orais, com entrevistas com descendentes de imigrantes e a pesquisa sobre a sua cultura e hábitos familiares.
Importantes são as fontes históricas escritas, bibliografias, jornais, fotos e os próprios livros didáticos, questionados e revistos, levando-se em conta que nos dias de hoje se usa outra abordagem no estudo de História.
Dentro de uma nova visão, deve-se levar o aluno a construir o conhecimento histórico a partir de que ele conceba de que ele próprio também constrói. O estudante deve perceber a diversidade étnica e social e aprender a respeitar as diferenças.
Em nossa comunidade não existe nenhum preconceito ou tentativa de se glorificar alguma cultura em detrimento de outras.Em tempos passados, quando não se valorizava a cultura dos indígenas e não se tinha a compreensão de que eles eram os verdadeiros senhores destas terras, havia em todo o planalto serrano meridional muito preconceito em relação a eles, bem como denominação pejorativa com conotação de “inimigo”. Mas, não podemos julgar os acontecimentos passados, só podemos analisar os fatos dentro de um contexto. Hoje nossa visão é outra, sendo necessário problematizar e questionar muitas concepções aprendidas. Uma delas é assentada na imaginação de que todos os índios eram iguais. Não. As populações indígenas eram e são marcadas pela diferença. Os índios que habitavam esta região eram os Botocudos, hoje denominados Xokleng, despejados de seu melhor habitat, as florestas de araucárias.
Todos, nativos, luso-brasileiros e descendentes de escravos africanos ou imigrantes, nos beneficiamos com as lições extraídas da História, hoje encarada numa perspectiva crítica/ética/cultural.
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