Papanduva nos Primórdios
Partes da obra Resgate de Memórias: Papanduva em Histórias. Famílias. Sinira Damaso Ribas - 2004
Papanduva nasceu à beira de um caminho.
Sua origem se confunde com a história da estrada usada pelos tropeiros para conduzir o gado de Viamão- RS a Sorocaba- SP.
Condutores de tropas do Rio Grande do Sul para São Paulo fizeram deste lugar, um ponto de pousadas, a partir de 1730. Para se chegar ao destino, a melhor via de ligação era o “Caminho das Tropas”, um traçado precário que cortava regiões de campos, serras, clareiras, charcos e mata fechada.
Os comerciantes viajores com suas tropas faziam paragens nesta região por encontrar o papuã, excelente pasto para os animais. O capim papuã da espécie Brachiaria plantaginea é uma gramínea com bom teor de proteína e alta digestibilidade, na época se prestando para o pastejo e engorda do gado que se destinava aos abatedouros paulistas. Nossos pastos serviam também de invernadas para os muares procedentes do sul. Por este motivo, em Papanduva, as caravanas faziam paradas de vários dias, para recuperação, antes de prosseguir viagens.
Papanduva é um nome indígena, derivado do nome do capim papuã.
Se, pela abundância e qualidade das pastagens o lugar era ideal para as tropas, era melhor ainda para o repouso e segurança dos tropeiros. Desde aqueles tempos, Papanduva é o paraíso da hospitalidade.
Papanduva reconhece que o tropeiro é o embrião de sua história. O tropeirismo foi a atividade que propiciou a formação de povoados e seu posterior desenvolvimento. As primitivas pousadas e choupanas davam origem a alojamentos mais organizados, onde famílias se estabeleciam para servir os viajantes e seus animais. Junto destes alojamentos eram feitos currais para abrigar os cavalos e as mulas durante a noite. Galpões eram construídos. Eram as conhecidas pousadas, que com o tempo se transformavam em pequenos centros de comércio. Assim nasceu um singelo povoado, hoje a acolhedora cidade de Papanduva.
Nas invernadas, durante o repouso, nossa hospitalidade reteve muitos tropeiros paulistas e paranaenses que demandavam a Estrada da Mata, cortando caminhos e por aqui se instalaram.
A “Picada dos Tropeiros” chegava a Papanduva, no sentido sul/norte, através do Rodeio Grande, passava no Rio da Prata, Lagoa Seca, transpondo o povoado e o rio Papanduva até chegar ao Passo da Cruz, atingindo o Passo Ruim e assim prosseguindo adiante. Esse local, mal drenado, era de difícil travessia, com terreno encharcado próximo ao Rio São João e um afluente que freqüentemente transbordava.
Ao longo da sinuosa via que cortava este sertão, foram se instalando pousos e invernadas, fixando moradores. Dois destes pousos têm para nós significativa importância. O primeiro, numa clareira, com uma planície que pela excelência do lugar era chamada “A Desejada” e posteriormente com o nome de Papanduva ou as “Cocheiras do Papanduva” e o segundo, bem próximo, ao pé de uma serrinha, denominado “São Tomaz de Papanduva”, em 1877 pelo sertanista Joaquim Francisco Lopes de Oliveira.
Papanduva era ponto de paragem, na ida e na volta das épicas viagens dos bravos tropeiros que transitavam pelo tortuoso Caminho das Tropas.
Distante de outras paragens, Papanduva era local de chegada obrigatória no trecho entre Rio Negro e Lages, através da Estrada da Mata. Este lugarejo formou-se com alojamentos de tropeiros e foi alavancado por acampamentos de “arigós”, para a construção da referida estrada. Os elementos que recebiam este nome eram trabalhadores volantes que se instalavam em barracas ou tendas nas frentes de trabalho. Estes eram operários recrutados de diversos pontos do país e depois de certo tempo, substituídos por outros. Alguns, porém, constituíam famílias e acabavam se fixando no local, incrementando os povoados.
Criadores e lavradores luso-brasileiros provindos do Paraná e São Paulo, através da Estrada da Mata, com suas mudanças transportadas em dorso de muares, chegavam até nossas paragens trazendo na algibeira os documentos de doação de sesmarias e se instalavam em áreas do planalto. Pela extensão destas terras era difícil mantê-las, pela falta de mão de obra, fator que fez com aos poucos elas fossem sendo invadidas por posseiros e mais tarde compradas por colonos imigrantes.
Em 1818 o povoado de Papanduva, recebeu um pequeno incremento com a vinda de algumas famílias procedentes de Campo do Tenente PR, que aqui se dedicaram à criação de gado bovino e extração de erva-mate.
As tropas, as bandeiras, as mudanças de paulistas, os carroções de mercadorias e outras expedições, continuaram transitando por nossos precários caminhos, percorrendo a Estrada da Mata, sempre por viajores reunidos por bom número e bem armados para poderem se defender de prováveis ataques de feras ou de indígenas.
O lugarejo, com muitas limitações foi lentamente crescendo. Em 1829, o Padre Marcelino José dos Santos rezou missa em Papanduva1, por ordem da Cúria de Rio Negro. Esta é uma data longínqua que prova a existência do povoado.
Os ranchos e as casas, desde os primórdios, eram de madeira “falquejada”, janelas de pau, portas fechadas com tramela e cobertas de tabuinhas. Nas proximidades não faltava um carijo para o preparo da erva-mate - (Ilex paraguariensis). Eram extensos os lageanais.
Nos primórdios papanduvenses, as principais atividades econômicas resumiam-se em extração de erva-mate, lavouras de subsistência, tropeirismo, criação de gado bovino e suíno. Num passado um pouco mais recente a extração madeireira fez parte consistente de nossa economia.
Há mais de um século, o lugarejo era dividido em Quarteirões. A sede propriamente dita constava de dois. Um deles, partindo do centro para cima era o Quarteirão da Ronda (depois Rondinha), e outro, para baixo, Quarteirão da Invernada, terras da família Haas. Nos arredores, por exemplo, já havia os quarteirões da Lagoa Seca, Queimados, Guarany e Pinhal. 2
Somada à população cabocla mais antiga do povoado, chegaram a Papanduva imigrantes alemães ainda na primeira metade do Século XIX e poloneses a partir do início do século XX. Já na segunda década, os ucranianos, e mais tarde (depois de 1940), japoneses e descendentes de italianos.
Ao longo de nossa história, a influência externa foi importante na formação da população que hoje somos. Revendo as raízes culturais de Papanduva, reconhecemos que a múltipla formação étnica contribuiu para a consolidação do espírito progressista que caracteriza hoje o município.
Todos, nativos e descendentes de imigrantes, aprendemos com os revezes da vida e nos beneficiamos com as lições extraídas da história, por isso, somos um povo forte, corajoso, produtivo, congregado e solidário.
Papanduva, município planaltino, vive o progresso, graças à qualidade de seu povo, ao seu solo dadivoso e fértil, à multiplicidade de sua etnia, mas continua dependendo também do empenho de seus governantes.
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1 - Cf. LIVRO DO TOMBO DA PAROQUIA DE RIO NEGRO apud Livro do Tombo nº. 1 da Paróquia de Papanduva. 1950.
2 - Cf. Livros de Assentamentos de Nascimentos do Distrito Judiciário de Papanduva. Acervo do Cartório de Registro Civil.
RIBAS, Sinira Damaso. Resgate de Memórias: Papanduva em Histórias. Famílias. 2004
2 - Cf. Livros de Assentamentos de Nascimentos do Distrito Judiciário de Papanduva. Acervo do Cartório de Registro Civil.
RIBAS, Sinira Damaso. Resgate de Memórias: Papanduva em Histórias. Famílias. 2004
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